
História do bairro
Nova Oeiras é um conjunto arquitetónico, urbanístico e paisagístico de inegável excelência, destacando-se como um dos aglomerados mais emblemáticos do urbanismo do século XX no contexto do modernismo europeu.
Em 1939, Arthur Brandão (1876-1960) adquiriu ao então Marquês de Pombal o palácio e os jardins adjacentes, bem como as quintas pertencentes à Casa de Pombal, entre elas a Quinta de Cima e a Quinta de Baixo.
A Quinta de Cima, com 130 hectares, foi vendida ao Estado em 1961 e entregue à Estação Agronómica Nacional, sendo ocupada em 1966. O olival foi, por sua vez, vendido ao conde de Riba d’Ave, dando origem à atual urbanização da Quinta do Marquês.
A Quinta de Baixo foi subdividida. Arthur Brandão reservou para sua habitação o palácio e jardins, mais tarde alienados à Fundação Calouste Gulbenkian, em 1961. O palácio acolheu a coleção de arte da Fundação até à sua transferência para o Museu Gulbenkian, em Lisboa, em 1979. Durante esse período, parte da coleção chegou a estar exposta no Palácio do Marquês. Posteriormente, o palácio foi cedido ao Instituto Nacional de Administração (INA), em regime de comodato, por 20 anos. Desde 2003, o palácio e os jardins são propriedade da Câmara Municipal de Oeiras.
Em 1940, as terras agrícolas da Quinta de Baixo, anteriormente ocupadas por vinhas, foram alienadas à Sociedade Nova Oeiras, Lda., constituída com o objetivo específico de urbanizar os terrenos. Inicialmente, a Sociedade integrava Arthur Brandão, José Marques de Sousa, José Maria Pedroso e José Ribeiro do Espírito Santo Silva. Em 1941, com a saída dos dois primeiros sócios, a sociedade passou a incluir José Maria Pedroso, José Ribeiro do Espírito Santo Silva, Luís Afonso da Cunha Magalhães de Sousa Adão e José Maria do Espírito Santo Silva.
Nova Oeiras foi claramente influenciada pelas correntes renovadoras do modernismo arquitetónico e urbanístico, inspiradas nas conceções de Le Corbusier e na Carta de Atenas (1933), que preconizavam cidades mais humanas, assentes no conceito de cidade-jardim.
O plano geral da urbanização foi desenvolvido pelo arquiteto Cristino da Silva, com colaboração de Pedro Falcão e Cunha, e Palma de Melo (responsável pelo projeto da Estalagem). O enquadramento paisagístico foi concebido por Gonçalo Ribeiro Telles e Edgar Sampaio Fontes. Os painéis de azulejos na antiga Estalagem foram criados por Rogério Ribeiro.
O estudo urbanístico teve em conta o plano já existente da Quinta dos Lombos, em Carcavelos, o acesso pela marginal e o traçado dos arruamentos junto à estação ferroviária de Oeiras. O plano geral foi aprovado pelo Ministro das Obras Públicas, por despacho de 1 de abril de 1954, e o licenciamento da urbanização ficou registado na escritura pública de 21 de junho de 1956. A urbanização abrangia uma área de 420 mil metros quadrados, com a construção do núcleo-base — centro comercial, blocos e torres — concluída em 1961.
Em 1962, o plano foi revisto, passando a prever uma torre de 20 pisos no local atualmente ocupado pela igreja. Este projeto, semelhante à Torre do Areeiro (também desenhada por Cristino da Silva), acabou por não ser executado.
Nova Oeiras desenvolve-se em torno da Alameda Conde de Oeiras, eixo viário principal que delimita a grande zona verde central, com 13 hectares. A construção distribui-se em redor da Alameda, integrada no espaço verde envolvente, enquanto os arruamentos interiores foram pensados para privilegiar a circulação pedonal.
A urbanização inclui seis torres de dez pisos com planta triangular, três blocos de três andares assentes em “pilotis”, um centro cívico e comercial com lojas no piso térreo e habitação nos superiores, além de cerca de 250 moradias unifamiliares com logradouro, localizadas fora do núcleo central da Alameda.
O plano paisagístico, delineado em 1956, previu a plantação de 790 árvores, entre elas carvalhos, ulmeiros, choupos, freixos, oliveiras, pinheiros mansos e alfarrobeiras. Este arvoredo acolhe atualmente cerca de trinta espécies de aves que partilham este espaço com os moradores.
Posteriormente à fase inicial, foram construídas novas infraestruturas, como o Clube Escola de Ténis de Oeiras (CETO), a Igreja de Santo António, o Centro Paroquial, as Capelas Mortuárias e uma escola secundária, hoje transformada na Universidade Sénior. Em 1982, a Estalagem Nova Oeiras, integrada no centro comercial, foi adquirida pela Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, que ali instalou o Centro Nuno Belmar da Costa.
A partir do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, registou-se um renovado interesse na preservação do bairro enquanto conjunto exemplar do urbanismo modernista. Em 2002, foi implementada a ciclovia ao longo da Alameda Conde de Oeiras, marcando uma aposta na mobilidade suave e reforçando a centralidade do espaço público como área de convívio e lazer.
Nesse mesmo período, e perante a necessidade de intervir de forma integrada para conservar e reabilitar Nova Oeiras, foi criado o GALNOV (Gabinete Local de Nova Oeiras). Este gabinete teve como missão coordenar a recuperação do bairro em articulação com os moradores, assegurando o respeito pelos traçados, materiais e cores originais definidos nos projetos dos anos 1950.
A partir de 2004, iniciou-se a reabilitação de edifícios, com trabalhos de recuperação de fachadas, substituição de caixilharias e reconstrução de elementos arquitetónicos de acordo com o projeto original do arquiteto Cristino da Silva. Esta intervenção contribuiu decisivamente para devolver a Nova Oeiras a sua identidade arquitetónica, garantindo a valorização do bairro como património modernista.
As obras incluíram ainda a renovação dos arranjos exteriores e zonas verdes, com destaque para a manutenção e plantação de árvores de grande porte, preservando a qualidade paisagística e ambiental que sempre foi uma marca do bairro. Estas ações permitiram não só recuperar a estética característica do conjunto urbanístico, mas também melhorar as condições de habitabilidade, reforçando o valor cultural e social de Nova Oeiras no contexto do concelho.
Com estas intervenções, Nova Oeiras consolidou-se como um exemplo de boa prática na preservação de bairros modernistas em Portugal, mantendo a sua essência enquanto “cidade-jardim” e assegurando que o seu património arquitetónico e paisagístico possa ser transmitido em excelentes condições às gerações futuras.








