16 de março de 2016

Candidatura do bairro à UNESCO no Jornal da Região

Entrevista com os Corpos Sociais da AMNO conduzida no Bairro pelo jornalista do 'Jornal da Região' Jorge Ferreira

Moradores de Nova Oeiras satisfeitos com candidatura à UNESCO

“Excesso de tráfego” é a maior preocupação

Viver num território candidato a Património da Humanidade pela UNESCO traz "prestigio para todos", aumenta o valor das propriedades, mas também poderá ajudar a resolver problemas sérios que subsistem, diz a Associação de Moradores de Nova Oeiras, cuja maior preocupação é o trânsito e a mobilidade.

O recente lançamento do "Livro de Nova Oeiras", com informação que serviu de base à candidatura daquele bairro a Património da Humanidade pela UNESCO — apresentada, no plano nacional, pelo Município de Oeiras há pouco mais de um ano — veio animar as hostes em relação à meta, mas também lembra o longo caminho a percorrer. Na verdade, nos anos mais recentes, o processo de manutenção e valorização daquele território tão singular progrediu mais no papel do que na prática. Em 2012, o Regulamento Municipal de Valorização e Salvaguarda do Bairro Residencial de Nova Oeiras (BRNO) foi aprovado pela Assembleia Municipal. Mas o ritmo dos melhoramentos com algum relevo que vinham sendo realizados anualmente foi interrompido em 2010, data da última obra de vulto: a construção do parque infantil e os arranjos exteriores de uma das seis torres habitacionais.

"A grande vantagem que vemos na candidatura à UNESCO é que ela pode 'obrigar' a Câmara a dar mais atenção às obras de manutenção e aos melhoramentos que faltam fazer", frisa ao JR Jorge Pinheiro, da Associação de Moradores de Nova Oeiras (AMNO).

A seu lado, num dos cafés do átrio comercial — que já conheceu dias de maior dinamização económica - Alexandre Antunes lança sobre a mesa a maior preocupação da associação: o trânsito e a mobilidade. "O bairro não era, mas passou a ser, um local de passagem e acontece que muitas pessoas que vêm ali das Palmeiras, da Quinta do Marquês, de Carcavelos, estacionam aqui e vão apanhar o comboio à estação da CP", queixa-se. "A questão do trânsito é, de facto, preocupante porque Nova Oeiras foi planeado como espaço que não era penetrado pelo trânsito envolvente... Entretanto, o surgimento, em volta, de outros bairros acabou por desvirtuar esse plano inicial. É a situação mais complexa de resolver porque implica mexer nesta zona toda", complementa Jorge Pinheiro.

As necessárias medidas de fundo, todavia, não parecem estar para breve. "Seria preciso construir um silo de estacionamento ou abrir o trânsito da Rua de Santo António até à estação", sugerem os moradores. Segundo explicam, aquela artéria, paralela à linha de comboio, torna-se sentido proibido para quem vem do lado de Carcavelos, antes de chegar à estação, obrigando o tráfego a entrar para o bairro. "Até porque o módulo é mais barato a partir de Oeiras e, por isso, em vez de estacionarem em Carcavelos, preferem vir para aqui...", atalha Alexandre Antunes.

Melhoramentos no final deste ano

Apesar de tudo, há obras na caIha que, se "não resolvem, pelo menos ajudam" a melhorar a situação. "Temos a garantia do presidente da Câmara de que, perto do final deste ano, vão avançar cinco pontos importantes, tanto na mobilidade como na requalificação de zonas do bairro", salienta Alexandre Antunes.

Uma dessas obras será a remodelação da praceta das traseiras do Átrio Comercial, na Rua Almirante Sousa Dias. O asfalto gasto será substituído por grelhas de arrelvamento, o estacionamento ordenado, a zona de baldio ajardinada e os contentores de lixo darão lugar a uma ilha ecológica.

Quanto a trânsito e mobilidade, os moradores estão a contar com a construção de passeios em falta, a concretização de uma separação mais clara entre a ciclovia e a faixa de rodagem, para além da adopção de mecanismos de acalmia do tráfego (não se sabe ainda se com semáforos ou com lombas). Está previsto, ainda, o arranjo da zona entre a faixa de rodagem e as moradias, hoje em terra batida esburacada. "Não vão resolver, mas atenuam os problemas", repete Jorge Pinheiro, que destaca a necessidade de proteger a ciclovia em relação aos carros. "A ciclovia tem a tinta gasta e não é por fraca qualidade da mesma, mas sim porque há cada vez mais carros a invadirem o espaço de bicicletas e peões".

Melhor tem estado a situação dos espaços verdes, que são muitos no bairro e com a marca de nascença do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. "Podem e devem ser mais bem tratados" advoga, ainda assim, Alexandre Antunes, embora reconheça que têm sido feitas várias acções de reflorestação (a última das quais por estes dias, aliás).

A revitalização da área comercial é outra necessidade. "As lojas de apoio ao consumo quotidiano das pessoas vão sendo substituídas por empresas de serviços", dá conta Jorge Pinheiro. Depois do fecho do café-restaurante da antiga pousada ali existente (que faliu), o qual juntava muitos moradores em convívio, encerrou também o supermercado, mais recentemente a estação de correios e até o posto de correios que lhe sucedeu estará para fechar Resta um talho, alguns cafés, pouco mais...

"Como em todo o lado, os 'shoppings' levaram as pessoas para outras paragens". conformam-se os elementos da associação de moradores, que acreditam, apesar de tudo, ser possível e necessário "ponderar um novo modelo de reconversão das lojas e de apoio a esse processo".

A AMNO tem feito o que pode neste aspecto, incluindo feiras anuais, com música ao vivo e eventos para as crianças. Por outro lado, para reforçar mais a ligação entre os cerca de 2000 habitantes, a associação está a preparar um livro sobre os moradores, a sua vivência do bairro, um retrato mais pessoal de uma história que já envolve quatro gerações e que, bem vistas as coisas, termina numa conclusão clara: é que, independentemente dos problemas por resolver, "importa não esquecer que, comparado com outras zonas, este bairro é um paraíso".

Jorge A. Ferreira
in JORNAL DA REGIÃO
16 a 22 de Março de 2016